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Problemas com idosos: pergunte ao especialista

Atualizado: 4 de jan. de 2022

Conheça outros problemas relacionados ao trato gastrointestinal na terceira idade. O Doutor Eduardo Jurkiv Lobo, médico especialista em gastroenterologia pela FBG (Federação Brasileira de Gastroenterologia) e endoscopia pelo Hospital Sírio-Libanês, responde as perguntas feitas por nossos leitores.

Dr. Eduardo Jurkiv Lobo | GastroSul DF

Doutor Eduardo, quais os principais problemas da terceira idade relacionados ao trato digestivo?  Quais as principais diferenças observadas ao longo da vida, por exemplo, entre um adulto saudável, um idoso com mais de 60 anos e aqueles com mais de 80 anos? 


Dr. Eduardo: Com o avançar da idade, diversas alterações são observadas no trato digestivo. Ocorrem mudanças estruturais em órgãos, como o fígado e o pâncreas. Há uma redução nas enzimas digestivas, alteração da microbiota intestinal, motilidade, dentre outras.

Ocorre um aumento na incidência de várias condições, como diverticulose colônica, constipação, doença do refluxo, úlceras gástricas e duodenais, super crescimento bacteriano no intestino delgado e tumores malignos, apenas para citar algumas.

As doenças no idoso muitas vezes se apresentam de maneira atípica ou mesmo sem sintomas, o que pode dificultar e retardar o diagnóstico. Além disso, costumam estar associadas a maior índice de complicações.

O uso de medicações também pode gerar sintomas, como xerostomia (boca seca), diarreia ou constipação. Importante salientar que não é apenas o trato digestivo que “envelhece”. Alterações no sistema nervoso, circulatório, metabólico e outros também impactam no trato gastrointestinal. 


Problemas gastrointestinais em idosos


Quando se fala em ingestão de alimentos por idosos, em linhas gerais, há aqueles que devem ser evitados para diminuir problemas gastrointestinais?

Dr. Eduardo: Um problema comum na população idosa está justamente na etapa inicial do processo digestivo: a mastigação. Redução da saliva, perda de dentes, redução da força da musculatura responsável pela mastigação, alteração nos reflexos da deglutição, tosse e redução da função motora do esôfago podem ocorrer.

Essas alterações aumentam o risco de complicações como desnutrição, desidratação e infecções, causas comuns de queda na qualidade de vida, internações e óbitos nessa faixa etária. Nesses casos, deve-se evitar a ingestão de alimentos duros, de difícil mastigação, sendo preferida a dieta pastosa.

Um acompanhamento multiprofissional (fonoaudiologia, nutrição, odontologia) é de grande valia principalmente em quadros avançados. É importante lembrar que a ingestão de alimentos, água e medicações não deve ser feita com o idoso deitado sem inclinação adequada do tronco.

Medidas dietéticas recomendadas para doenças como o “refluxo” e a doença celíaca (“do glúten”) são semelhantes às indicadas para faixas etárias menores.

É sabido que medicamentos como Omeprazol e Pantoprazol são consumidos livremente para diminuir a acidez gástrica, bem como leite de magnésia, hidróxido de alumínio, bicarbonato de sódio e outras fórmulas comerciais vendidas sem receita médica. Quais os riscos associados, em particular para as pessoas acima de 60 anos?


Dr. Eduardo: Uma preocupação importante é a possibilidade de o alívio do sintoma fazer com que o paciente não procure o médico e não trate adequadamente, ou mesmo não tenha realizado o diagnóstico de uma doença potencialmente grave, como úlceras (que podem sangrar) e tumores malignos.

Atualmente, vários estudos têm associado as medicações da classe do omeprazol à diversos problemas, como redução na absorção de vitaminas, aumento de infecções e fraturas ou mesmo demência.

Essas conclusões devem ser avaliadas com cautela e os resultados devem ser interpretados levando-se em conta as limitações metodológicas próprias de cada estudo. Além disso, problemas como diarreia, constipação, interferência da absorção de medicações e vários outros podem ocorrer com o uso dessas medicações.

O médico assistente deve pesar os riscos e benefícios dessas medicações de maneira individualizada. 


Poderia citar algumas condições que podem dificultar ou inibir a absorção normal de nutrientes por pessoas idosas? Seria possível minimizá-las ou evitá-las?


Dr. Eduardo: A redução na produção de saliva pode gerar dificuldade em mastigar e engolir alimentos, gerando deficiências de vitaminas, minerais, proteínas e calorias. A redução de enzimas digestivas pode dificultar a digestão.

Doenças como gastrite autoimune são mais prevalentes nos idosos e sabidamente reduzem a absorção de ferro e vitamina B12, cuja deficiência pode causar anemia ou mesmo alterações neurológicas e psiquiátricas.

Cirurgias (devido a causas benignas ou malignas) e doenças gastrointestinais (insuficiência pancreática, doença celíaca e de Crohn, por exemplo) podem gerar deficiências nutricionais.

Algumas medicações podem reduzir a absorção de vitaminas lipossolúveis. A melhor maneira para minimizar esses problemas é o uso racional de medicações, vigilância e tratamento individualizado das suas causas e a reposição de enzimas digestivas e de nutrientes, quando indicadas.


Importância da água para idosos


Quais consequências o baixo consumo de água pode ocasionar nos idosos?

Dr. Eduardo: O baixo consumo de água geralmente acontece com mais frequência no idoso devido a alterações na percepção da sede e dificuldades em se locomover e falar, dentre outras situações, e gera mais problemas quando comparado a um adulto jovem.

A água é de suma importância para o metabolismo corporal como um todo. Há associações com constipação e suas consequências, boca seca, dificuldade para a deglutição e alimentação. A desidratação pode levar a distúrbios hidreletrolíticos com vários graus de intensidade, podendo gerar confusão mental, predispor a quedas e arritmias cardíacas.


A importância de exames gastrointestinais


Qual a importância do exame de endoscopia digestiva? Há uma frequência recomendada para sua realização ao longo da vida? Há contraindicações à sua realização?

Dr. Eduardo: A endoscopia digestiva alta é o método de escolha para o diagnóstico de diversas doenças gastrointestinais. É importante no acompanhamento de algumas condições e é a primeira opção para o tratamento de algumas doenças benignas (sangramento de úlceras, por exemplo), pré-malignas, ou malignas em estágio inicial.

No entanto, deve ser solicitada em casos selecionados, tendo como base uma boa anamnese prévia. Trata-se de procedimento invasivo, não isento de riscos, principalmente nos idosos. Essa população está mais sujeita a complicações, não apenas devido à idade, mas também à maior incidência de doenças como diabetes, cardiopatias, enfisema pulmonar e várias outras.

O uso de algumas medicações também interfere na segurança do procedimento. Medicações para o diabetes, por exemplo, devem ser tituladas para se reduzir o risco de hipoglicemia devido ao jejum. Outras reduzem o esvaziamento gástrico, aumentando o risco de aspiração para as vias áreas, o que é extremamente grave.

Algumas interagem com os sedativos, outras elevam o risco de sangramento, por exemplo.  A frequência desse exame deve ser determinada pelo tipo e gravidade da doença à qual ela se destina acompanhar e ao estado de saúde do paciente.

Existem contraindicações relativas e absolutas à sua realização. Os médicos solicitantes, executantes e anestesiologistas são os principais responsáveis na tomada de quando se deve solicitar ou suspender esse exame.


Qual a importância do exame de colonoscopia? Há uma frequência recomendada para sua realização ao longo da vida? Há contraindicações à sua realização? 


Dr. Eduardo: As respostas são semelhantes às da endoscopia digestiva alta, com alguns detalhes:

1) A colonoscopia é indicada no rastreio, prevenção e seguimento do câncer colorretal, o segundo tumor maligno mais frequente nas mulheres e terceiro nos homens (excluindo-se o de pele) e importante causa de mortalidade entre essas doenças. Em princípio, está indicada a partir dos 50 anos de idade (alguns trabalhos propõe início aos 45 anos) para todas as pessoas, mesmo as que não têm nenhuma queixa gastrointestinal.


A frequência é determinada principalmente com base nos achados do exame e qualidade do preparo gastrointestinal, podendo variar de 3 meses a 10 anos, ou mesmo optar pela interrupção do seguimento. 


2) Para a sua realização é necessário preparo intestinal, que é mais difícil e arriscado no idoso. Há maior incidência de desidratação, hipotensão, queda, vômitos e outros problemas. Os riscos relacionados ao procedimento também são maiores quando comparados às pessoas mais jovens e também quando comparados com a endoscopia digestiva alta. 


Em suma, é um exame muito importante, mas deve ter suas indicações bem estudadas, com o intuito de se oferecer a melhor relação risco x benefício possível.


Dr Eduardo Jurkiv Lobo

CRMDF 13253

Especialista em Gastroenterologia - RQE 13286

Especialista em Endoscopia - RQE 12899





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